Madrugada tem show de sexo em clubes gays veja Guia GLS SP

Daia Oliver
Gogo boy encarna fetiche de marinheiro, tirando a roupa, em SP
Gogo boy encarna fetiche de marinheiro, tirando a roupa, em SP


A apresentação de gogo boys e drag queens é um dos clássicos da noite gay de qualquer grande cidade. Em São Paulo, clubes também promovem shows de sexo explícito.

É madrugada da quinta para a sexta na boate Danger, na r. Rêgo Freitas, 470, perto da igreja da Consolação. Na porta, Salete Campari, no seu modelito Marilyn Monroe, organiza a fila.


Por volta das 3h da manhã, três pares descem as escadas até o palco: duas mulheres, dois homens e um casal hétero. Eles estão nus, os homens estão com o pênis ereto e usam botas pretas. Distribuídos pelos três cantos do palco, começam a fazer sexo oral, anal e vaginal, com camisinha. O público se agita, e ninguém disfarça o sinal de ereção na braguilha.

A performance é ensaiada. Posições acrobáticas são bem-vindas. A cena de penetração vaginal, em que a modelo fica de cabeça para baixo, atiça até o mais convicto dos homossexuais. O show acaba. É a senha para metade da plateia correr para o banheiro ou para o quarto escuro.

O som de bate-estaca anuncia a reta final da balada. Até 6h da manhã, é a última chance de ficar com alguém, embalado pela fantasia do sexo explícito teatral. No dark room, homens se pegam encostados na parede. Há um forte cheiro de suor. Trios e até grupos de quatro e cinco exercitam sua libido. Alguém abre o celular para mostrar a própria foto na tela. Parece só sexo rápido e casual, mas pode ser também uma armadilha. Muita gente perde documentos, carteiras e celulares em dark room. Há até uma placa alertando para o risco de furtos.

Daia Oliver
Frequentador tira a camisa no bar do clube gay SoGo, nos Jardins
Frequentador tira a camisa no bar do clube gay SoGo, nos Jardins


Na noite de sábado para domingo, a próxima parada é a Blue Space, na r. Brigadeiro Galvão, 723, Barra Funda, próxima ao Metrô Marechal Deodoro. São duas pistas --a menor, no térreo, tem uma portinha para um dark room, menor do que o da Danger. Aqui o público é mais diversificado. Há também descamisados, fortões, magrinhos e até donos de barrigas protuberantes.

No palco da pista maior, gogo boys sacolejam músculos com seus sorrisos automáticos e gestos de sedução, como escorregar as mãos pela sunga, ameaçar um nu frontal ou mostrar a bunda. Drags também arrasam sacudindo a cabeça ao ritmo da música ou em esquetes de humor, em que satirizam bordões de novela ou dramas do gueto.


O bate-estaca domina, com telões para todos os lados, e muita paquera nas bordas da pista: encosta-se uma perna aqui, o traseiro ali, quando menos se espera, corpos agarrados, beijos longos e apaixonados, mãos acariciando todo o corpo.

É mais de 2h da madrugada de domingo. O point é novo. Chama-se Planeta Mussa, fica na r. Bento Freitas, 66. Paga-se R$ 5 para entrar. Há um pequeno palco, onde sósias de Clara Nunes e Maria Bethânia se apresentam. Nas mesas, predomina o público maduro, habitués do underground.

Chega a hora do stripper. Entre no palco um rapaz muito jovem (não deve ter 20 anos), baixinho, com uma barriga inacreditável de definida, sem o menor sinal de bomba, malhação natural. Todos suspiram. Ele é carismático, um sorriso diferente dos outros. Entende-se: é sua estreia como gogo boy. O sucesso é imediato. Logo as "tias", como se tratam alguns homossexuais idosos, já querem saber da drag o contato do rapaz. É preciso ter cuidado, pois é raro encontrar um gogo boy gay assumido. Alguns andam até com namorada a tiracolo.

São 4h da manhã. No largo do Arouche, homens em busca de sexo se deslocam para o bar Fama (r. Frederico Branches, 29). Após pagar R$ 5, com direito à consumação, entra-se num universo paralelo. Há sinuca, fliperama, jukebook, mesas e cadeiras, nas paredes quadros de de Marilyn Monroe, Audrey Hepburn e Bette Davis, clichês que decoram também paredes de cines pornôs, como o Zen (R$ 10, av. São João, 1.119).

O Fama é um point tradicional de michês. Quando não encontram clientes nas ruas, eles correm para lá. Na madrugada, garçons sobem ao palco e tiram a roupa. Depois descem e vão se deixar tocar pelos clientes nas mesas. Alguns fregueses são mais assados e tentam tirar uma casquinha, como tocando o pênis do rapaz ou mordendo sua teta. Mas o lugar mais quente do Fama é seu banheiro, onde os garotos de programa transam com seus clientes, seja no reservado ou encostado na parede de um depósito.

Tudo é kitsch: a cortina de veludo marrom, as lanternas vermelhas misturando o toque oriental com quadros de carros na área da sinuca. É hora do show: o responsável pelo lugar se veste de Fafá de Belém e dupla "Filho da Bahia", o primeiro hit da cantora, de 1975. Eco a letra "Saia dessa roda/Venha descansar/Venha pro meu colo/Venha namorar/Ah, moreno", e os frequentadores mais idosos param de olhar para os rapazes de bermuda e boné para cantarolar com êxtase. A noite acaba, e uma placa "lotado" já foi colada na porta de entrada do motel mais próximo, na rua Jaguaribe.